Nesse dia Internacional da Mulher de 2021 é preciso falar dos impactos da crise sanitária imposta pela COVID-19 na vida das mulheres.
A situação de pandemia tende a agravar desigualdades estruturais existentes, entre as quais a de gênero e raça. Para as famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge e com filhos a situação oscila entre a extrema vulnerabilidade e a situação de pobreza. Esse modelo de arranjo é composto por maioria absoluta de mulheres. Em 2018, 12,755 milhões de pessoas viviam em arranjos familiares formados por responsável, sem cônjuge e com filhos até 14 anos, compreendendo 7,4% da população. Desse total, em 90,3% dos domicílios a responsável era mulher. Dentre estas, 67,5% eram pretas ou pardas e 31,2% brancas.
Considerando a situação de pobreza e extrema pobreza, dentre os arranjos familiares, os formados por mulheres, sem cônjuges e com filhos menores de 14 anos estão entre os mais concentrados na situação de pobreza extrema. Esses arranjos compreendem 20,6% do total da população que vive em extrema pobreza no país. Os que possuem chefia de mulheres pretas ou pardas concentram 23,7% da população extremamente pobre, enquanto dentre as brancas o percentual é de 13,9%.
A situação é ainda mais profunda quando consideramos os domicílios pobres, nos quais as mulheres chefes, com filhos e sem cônjuges concentram 54% do total, aqueles chefiados por mulheres pretas e pardas 63%, e os chefiados por mulheres brancas 39,6%. Ou seja, ainda que represente menos de 8% da população do país, esses arranjos concentram a maior parte dos domicílios pobres
A maior responsabilidade por suas famílias, no entanto, não resultou em melhorias na renda e oportunidades de trabalho. As famílias chefiadas por mulheres estão mais concentradas em faixas de renda per capita baixa, 53,4% vivem com até 1 salário mínimo (SM) por mês, quando entre os homens o percentual é de 46,46%. Dentre as famílias chefiadas por mulheres 11,28% recebem renda per capita mensal de até ¼ de SM e 14,54% mais de ¼ até ½ SM; no caso dos homens a participação é de 9,5% e 11,55%, respectivamente (Fonte: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino).
Não é incomum que diversas pessoas que de alguma forma têm acesso a serviços de acolhimento de crianças e adolescentes perguntem “onde estão as mães dessas crianças”.

Nossa sociedade tem a tendência de responsabilizar somente a mãe pelos cuidados com os filhos, quando, na verdade, a responsabilidade legal pelo desenvolvimento saudável deles pertence a ambos progenitores.
É muito comum a culpabilização da família de origem, sobretudo da mulher, pela negligência ou abandono dos filhos, que acabam sendo encaminhados a serviços de acolhimento para que sejam afastados de uma determinada situação de risco. Porém, é importante refletir até que ponto essas famílias não foram também negligenciadas pelo Estado em seus direitos básicos, não tendo acesso a direitos mínimos, reproduzindo o círculo de abandono e negligência de que também foram vítimas. Não podemos nos esquecer de que a criança e adolescente de hoje é o adulto de amanhã e que o tratamento que damos à infância hoje será determinante para a sociedade que teremos no futuro. A situação, portanto, transcende a geração atual e nos remete à história da nossa sociedade em relação à questão social.
O Dia Internacional da Mulher é, portanto, muito mais do que um dia de celebração, é um dia de luta pela desconstrução de paradigmas patriarcais que vêm promovendo há gerações um verdadeiro massacre de mulheres, sobretudo as de pele preta, parda e vermelha. A pandemia apenas descortina essa realidade e nos convoca a construir novos horizontes para a mulher na sociedade.