Neste Dia das Crianças, atravessado pela pandemia do coronavírus, precisamos externalizar nossa preocupação com a população em maior estado de vulnerabilidade do país: além dos idosos e grupos de risco, as famílias de comunidades pobres, moradores de rua e, em especial, crianças e adolescentes, prioridade absoluta de acordo com a Constituição Federal.

A pandemia evidencia a fragilidade das políticas voltadas a essas pessoas.

Mesmo antes a chegada do coronavírus no Brasil, era possível testemunhar feiras, terminais e praças lotados em que cenas da infância em perigo não eram difíceis de flagrar.

Porém, a crise de saúde pública aprofundada pela COVID-19 aumenta exponencialmente o  risco de crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade, expostos a perigos dentro e fora de casa.

Mesmo para as crianças em estado de vulnerabilidade que ficam em casa, há outros riscos em jogo. Estela Scandola, doutora em Serviço Social, pesquisadora da Escola de Saúde Pública do Mato Grosso do Sul, destaca que os adultos também estarão em casa e que a quarentena do coronavírus deflagra as violações que não foram pensadas de forma global nas políticas públicas, deixando de atender crianças e adolescentes em todas as suas necessidades.

A doutora em Serviço Social lembra que o coronavírus não é democrático. “Nem na prevenção, nem no atendimento, nem no cuidado das pessoas. São diferentes as condições por quais as pessoas passam”, afirma. Nesse sentido, Estela lembra que no Brasil, com tantas desigualdades, uma coisa é suspender as aulas da classe A e da classe média, quando os pais são funcionários públicos ou de empresas que também pararam de trabalhar e outra é das classes mais empobrecidas. “Quando os pais são trabalhadores precarizados ou diaristas, como vai ser o processo de manutenção dessa família?”

Aproximadamente 9 milhões de crianças estão sem acesso à merenda escolar após o fechamento das escolas para conter o novo coronavírus, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Com a interrupção das aulas, estes alunos deixaram de ter alimentos em seus estabelecimentos de ensino. Essas medidas têm implicações enormes não somente no aprendizado das crianças, mas também em vários aspectos importantes de suas vidas, deflagrando ainda questões relacionadas à saúde emocional dessas crianças.

Para fazer o valer o princípio de que a infância em nosso país é mesmo prioridade absoluta, devemos nos mobilizar para garantir a elas seus direitos básicos.

No Dia das Crianças, dê um presente à infância que cresce em serviços de acolhimento institucional. Ajude-nos a furar a bolha da invisibilidade e invista em projetos voltados a esse público. Conheça a Campanha Cuca Legal, que tem a finalidade de ampliar o cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes em acolhimento institucional, e participe. https://bolsadevaloreshumanos.org.br/cucalegal/