Serviços de acolhimento em tempo de coronavírus
Acredito que a pandemia do coronavírus impôs, para todos nós, a necessidade de nos reinventarmos e repensarmos nossa rotina, para estarmos mais presentes e conscientes nesse inédito momento histórico, que nos força a uma nova forma de agir e viver.
Nos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes, esta nova realidade exige fortalecimento da equipe de trabalho, escutas mais (a)efetivas das opiniões e sentimentos de todos os envolvidos. O que tenho observado é que cada um, na sua atuação, tem buscado oferecer o melhor que pode, colocando em prática as orientações técnicas de cuidados. Assisto a adultos cuidadores que, embora justificadamente cansados e angustiados, vêm explicando e dialogando com as crianças, adolescentes, jovens e suas famílias sobre a importância do isolamento social diante da gravidade da atual situação.
Isolar um serviço de acolhimento requer planejamento, observância das orientações técnicas de todas as políticas públicas que regem o sistema de acolhimento institucional, mas também exige que todos os adultos que fazem parte desse mundo do acolhimento, que já se dedicam de forma incomum ao trabalho, tenham que se desdobrar ainda mais, o que tem implicações importantes na saúde física e mental deles.
O momento é de busca de formas alternativas e criativas para desenvolver atividades com as crianças e adolescentes. O jeito de brincar mudou. Precisou mudar. O COVID-19 nos impôs essa restrição. Cada educador/educadora, a sua maneira, tem utilizado suas memórias de infância e habilidades para oferecer novas vivências e brincadeiras às crianças e adolescentes, momentos em que ficam atentos às reações de ansiedade e angústia deles. E se veem novamente explicando, mais e mais vezes, sobre os motivos de não podermos sair e brincar como fazíamos antes.
Com os adolescentes, a tentativa sempre é de aproximação, de oferta de uma boa conversa, em que o tema necessário é a necessidade do isolamento e de como essa situação nos une como seres humanos, embora fisicamente nos afaste. Mas também é uma oportunidade para eles vivenciarem outras formas de interação com as pessoas e de descobrirem formas de lidar com os medos e as angústias, muitas vezes acentuados pelo isolamento social.
Enfim, minha análise da situação atual é de que educadores, equipes técnicas, coordenadores e toda a rede de funcionários dos serviços de acolhimento estão ofertando o quanto podem de segurança, atenção e afeto para acolher as crianças e adolescentes sob seus cuidados nesse momento de tantas incertezas. Muitas vezes esses atores sociais deixam de lado os seus próprios receios, as preocupações com a sua própria família para cuidar de outros, e dar o exemplo de dedicação e respeito a muitas vidas. Porque para nós, toda vida humana importa, e nossa luta é para que essas vidas sejam tratadas com o máximo de dignidade.
Fernanda Oliveira é assistente social do CMPCA e gestora da BVH.